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sábado, 20 de julho de 2013

Realismo nº 2

Algumas vezes, eu tenho medo de abrir meus cadernos antigos - aqueles jogados no fundo do meu armário - e folhear suas páginas rabiscadas. Eu tenho medo do que vou ler ali, pois sei que deixei rastros. Aqui e ali, encontro frases escritas às pressas ou com cuidado deliberado. Entre passagens de livros e letras de música, leio palavras de minha própria autoria. O começo de uma poesia torta ou uma tentativa totalmente frustrada de escrever alguns versos de música. Não é uma verdade confortável, mas devo admitir que a maioria das palavras escritas pela minha própria mão são desabafos. Alguns desesperados, outros cheios de vazios; consumidos pelo tédio ou pelo ódio. Encontro alguns trechos tão recheados de emoção crua que preciso parar para respirar. Eu paro, pisco algumas vezes, leio de novo, suspiro. Eu sempre deixo rastros. Algumas vezes me surpreendo com as minhas dores estúpidas e joviais, outras vezes o sofrimento escrito há anos atrás está tão próximo de mim que poderia ter sido escrito ontem. Essa última situação me irrita de maneira peculiar e intensa. Eu sinto nojo desses momentos. Era para eu estar melhor, porra. Claro, existem vezes que as linhas escritas me chocam de um jeito totalmente diferente. A dor nelas é tão desesperadora e tão distante que quase não faz sentido. Eu estava tão machucada assim? Estou tão melhor que essas palavras num caderno velho me fazem arregalar os olhos e me perguntar o que diabos estava passando pela minha cabeça no momento? Fico em dúvida se devo sorrir ou se deixo as palavras perturbadoras me preocuparem. Opto por um abanar de cabeça e um sorrisinho de lado. Algumas coisas precisam ser comemoradas.


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