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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A rainha dos cabelos de fogo


Já perdi a conta de todas as declarações de ódio. Das cuspidas que levei na cara. Dos nomes que me deram - dentro e fora dessas páginas. Eu entendo os insultos e as pedras. Cometi um pecado terrível, imperdoável - a inocência. No meu mundo e no seu, esse é o pior pecado de todos. Assassinato, perdoável. Estupro, compreensível. Crueldade, dobre o joelho e tudo será esquecido. Inocência? Ingenuidade? Não há perdão, nem misericórdia. Ninguém vai esquecer. Não haverá paz para mim. Só insultos e pedras e sangue. Os tolos crucificam outros tolos enquanto o verdadeiro mau ri da nossa cara. Perdoem-me, mas se sou tola, vocês não são melhores.
Vou me encolher nos meus lençóis macios e chorar até que o sono chegue. Um sono agourado de pesadelos, culpa e pedras. Não sou forte. Vocês disseram que não sou forte, eu acreditei. Não importa que minha educação gelada corte tão fundo quanto qualquer adaga. Minhas palavras são gentis demais e minhas mãos são demasiadamente macias. Esse tipo de força não lhes interessa. Força é sangue, fogo e morte. Vocês querem ver os corpos, o sangue na espada. Saibam que eu também posso. Eu também sou capaz de mentir, de ganhar confiança, de cortar suas gargantas durante o sono. Afinal, existem adagas pequenas e de cabos delicados para meus dedos frágeis de mulher nobre. Eu já tenho sangue nas mãos, mais um pouco não fará diferença. A minha bondade é a única coisa no caminho, mas isso vocês não prezam, por isso devo me livrar dela. O sangue é tudo que importa, o sangue nos dedos, na espada.
Ah, a culpa é minha e só minha. Eu não brandi a espada, não dei a sentença, mas fiz pior: eu acreditei em histórias felizes. Vocês me julgam como se nunca tivessem sido crianças e acreditado em contos de fada. Porém, no meu mundo e no seu, crianças vivem pouco e inocência se paga com sangue. Larguem as pedras, pois eu cresci. Calem os insultos, pois eu estou aprendendo. Façam isso, ou eu mesma arrancarei suas mãos e línguas. Viram? Já estou aprendendo.


*



Há um tempo atrás - quando estava lendo o quarto livro, acho - escrevi essa história sobre Sansa Stark. Eu estava mais do que pronta para perdoa-la e tomar suas dores toda vez que alguém manifestasse ódio contra ela. Hoje, eu li um texto sobre ela e lembrei da história. Lembrei de algo que já sei a muito tempo: ela é uma sobrevivente. No final, quando todos estiverem caindo com espadas ensanguentadas nas mãos, ela estará de pé, possivelmente com uma coroa sobre os cabelos de outono.

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