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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Nas dunas do Oriente

Ele me disse que não sou forte o bastante.
Falou para eu desfazer as malas e os sonhos.
Eu neguei, eu me neguei.
Ele me levou para as dunas.
Aquelas do Oriente, não do litoral.
Era quente, imenso e solitário.
Parecia o meu coração.
Ele me perguntou se eu acreditava no inferno.
"Eu acredito!", gritei.
Gritei, porque aqui não há ninguém para ouvir
E a imensidão do silêncio não me coloca medo.
Esse silêncio não me aterroriza.
Pois existem tipos de silêncio
E esse me faz gritar.
Ele sussurrou.
Não podia gritar.
Tinha medo desse silêncio.
Tinha medo.
Medo. O que é isso?
Um dia eu soube, mas esqueci.
"O inferno é aqui",
Foi isso que ele sussurrou.
Eu neguei. Eu lhe neguei.
"Ouve?", gritei.
Ele não ouvia.
Porque tinha medo.
Ele não podia ouvir a poesia nas dunas.
Eu ouvia. A poesia gritava.
Ele me levou para casa.
Na minha cozinha escura, eu sentei e ouvi.
O silêncio cheio de ruídos, de vozes.
Eu me lembro. Agora eu me lembro do medo.
Esse silêncio me assusta. Ele me cala.
Eu choro, baixinho.
Eu sussurro, pois não posso gritar.
Não sou forte o bastante.
Para minha cozinha escura, eu sussurro:
O inferno é aqui.

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