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domingo, 14 de outubro de 2012

Ah, o amor contemporâneo

Você diz que cansou dos meus versos, minhas rimas não têm mais graça. Você chama minha tristeza de prosaica, porque a poesia vazou de mim junto com o sangue da última vez que eu tentei cortar a dor para fora do meu corpo. Vazou de mim e escorreu pelo ralo da banheira, junto com o sangue e minha vontade de ficar contigo. Você me condenou ao inferno por eu dizer que sou minha própria deusa, você acha graça da minha fé nas pessoas. Oh, você é tão santificado, brincando de idolatrar seres invisíveis e dizendo que eu sou louca por acreditar na bondade do ser humano. Os seus amigos imaginários não me convencem, as suas palavras me entediam. Você quer viver numa canção pop, onde as meninas bonitas sangram glitter cor-de-rosa e o poeta de esquina repete que "Ah, mas ninguém nunca morreu de amor!". Sinto muito se você acreditou nessa merda, querido. Amor mata. Os corpos nas esquinas, nos quartos de hotel, no chão do banheiro. Eles morreram de amor. O amor matou o idiota do Romeu e sua maldita Julieta. Nunca me desceu pela garganta que você prefira Romeu e Julieta à Hamlet. Você nunca me desceu pela garganta, querido, e eu bem que tentei te engolir com vodka. Para ser justa, eu também nunca desci pela sua garganta. Eu nunca disse as palavras que você queria ouvir - aquelas três malditas palavras. Eu disse muitas outras, bem mais bonitas, bem mais verdadeiras, mas vocês não quis saber. Afinal, o que elas significam? Aquelas três palavrinhas, elas são repetidas demais. Perderam o sentido. E o amor? Ah, não vou dizer que o maldito seja superestimado. Acho o amor lindo, mas mata. Te achava lindo também, mas mata, mata! Só quero que você saiba que enquanto você estiver morrendo de amor em alguma esquina, eu estarei sentada no chão do meu banheiro sem amor nenhum, mas viva - muito viva! - escrevendo uma poesia que com certeza não perdeu a graça. Não mesmo.


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