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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Sobre escrever.

Em vão procurei palavras doces para dedicar aos olhos dos leitores mais sensíveis. Em vão, porque não acredito mais nessa coisa de adocicar as frases, assim como não acredito em adocicar os sentimentos. Parece que estou procurando eufemismos e não se deve tratar as palavras ou os sentimentos com eufemismos. É uma ofensa gravíssima! Palavras não devem ser medidas, sentimentos não devem ser suavizados. Não quando se trata de literatura. Escrever é um trabalho sujo, não importa o quão docemente você exerce essa atividade. No final, suas mãos estão sujas de tinta, sangue e lama. Tenho certo desprezo por aqueles que insistem em usar luvas; Aqueles que corrigem um estilo de linguagem como se fosse um erro gramatical; Aqueles que abrem mão do sentimento pela beleza, que abrem mão da verdade para se fazer soar melhor. Não! Não se deve ser tão leviano com a literatura. Vamos admirar as palavras doces e bonitas e também vamos admirar o feio. E vamos todos admitir que entramos na lama para chafurdar atrás das palavras. A lama dos nossos sentimentos. Nós precisamos mergulhar no que sentimos, pensamos ou imaginamos sem medo de nos sujarmos. Em meio a essa lama há beleza e há feiura. As vezes há palavras, as vezes são coisas disformes que você precisa amassar brutalmente para transforma-las em algumas linhas. Porém, não tente limpar a lama dessas palavras, não limpe delas o sentimento. Ofereça-as ao leitor para que este decida se são sujas, se são feias ou se são belas. Deixe que ele saiba que escrever não é uma tarefa para alguém com medo de colocar as mãos na sujeira. Eu mesma tive que mergulhar fundo na lama pra escrever essas linhas e elas estão aí, exatamente como as encontrei. E, a partir de agora, prometo não mascarar a feiura delas. Aprendi minha lição. Agora mesmo as palavras de ódio, as palavras más, eu acolho como amigas. Eu as encontrei dentro de mim, cheias de lama e assim ofereço-as a vocês. 

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