Pages - Menu

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Dama Branca

Capítulo 2 - Alba

Existe uma antiga canção de ninar que todas as mães e pais do Mundo Mágico cantam para seus bebês. Ela é cantada na língua dos Antigos, ou porque a tradução não é tão bonita quanto a canção original ou porque as pouquíssimas pessoas vivas que saberiam traduzir não estão interessadas nisso. Para mim, ambos os motivos são verdadeiros e ainda há um terceiro: Não existe tradução porque não deve existir. A canção é cantada na língua dos Antigos, das criaturas mágicas, porque canta sobre algo mágico... A canção é sobre o amor dos pais pelos filhos. Não a tradução para esse amor tanto quanto para a canção.
Eu estou explicando isso, para que vocês entendam como é triste o que eu vou dizer a seguir. Não havia ninguém para cantar essa canção de ninar para Alba. Assim, como não havia ninguém para abraçar-lhe quando chorava ou para sorrir-lhe bondosamente quando a vida fosse má com ela. Mas me adianto, me adianto.
Alba, a filha do capitão Malic, recebeu esse nome de uma feiticeira que mora em uma caverna meio submersas no meio do mar. O capitão realmente não se importava que a criança tivesse um nome e nunca pensaria em nome doce e alvo como este, mas quando uma feiticeira fala o nome da criança é este que ela deve receber. Feiticeiras são criaturas misteriosas, enxergam muito, compreendem pouco e não são confiáveis o bastante, mas creio que essa feiticeira, por mais que ela carregue todas as características citadas anteriormente, não errou na escolha do nome. Além disso, feiticeiras mentem, mas não podem mentir sobre nomes. Nomes tem poder, todos sabem, ainda mais neste mundo.
Durante quase todos os dias podia-se ouvir o choro de um bebê por todo O Ceifador, mas ninguém tentou contê-lo. Ninguém foi até o bebê e sussurrou com ternura "Shh, tudo bem, está tudo bem". Até que um dia, depois de muitos e muitos dias chorosos, o bebê se calou. Não, não, ele não morreu. Por mais que seja difícil para mim acreditar, Alba sobreviveu a tripulação d'O Ceifador. A verdade é que quando o amor e a atenção foram lhe negados tão veementemente, Alba aceitou que não receberia nada. Ela nem sabia o que queria quando chorava com tanta ansiedade, mas quando nada lhe foi dado, ela simplesmente aceitou que a vida era assim. Se alguém a tivesse abraçado, talvez tudo nessa história seria diferente.
Alba cresceu fazendo as tarefas mais sujas a bordo do navio: Limpar o convés, lavar os pratos,  tirar sangue das armas, etc. Mas ela não era uma simples serviçal, ela treinou com a espada desde os 4 anos, aprendeu a atirar antes disso e a roubar ainda antes. 
Bela e atormentada Alba. Tentei descreve-lá centenas de vezes para os mais variados tipos de pessoa, mas tenho certeza que nunca consegui chegar nem perto. Mesmo assim, acho que você merecem a minha tentativa. Alba era o inverno, acho que posso dizer assim. Tinha a pele pálida como a de alguém que já sentiu o toque da morte e o cabelo liso era de um loiro prateado, meio que brilhava, como se refletisse a lua. Já os olhos eram escuros como uma noite sem lua e sem estrelas. Era magra, com alguns traços delicados, mas havia algo de atlético no seu corpo. A boca volumosa era bem desenhada e o sorriso... Bem, essa é a parte que eu mais gosto de falar e a que mais tenho dificuldade, pois Alba quase nunca sorria. O sorriso dela era raro e desajeitado, mas era puro, o que fazia dele a coisa mais linda sobre ela. Alba era inteligente. Não o tipo de inteligência que alguém culto apreciaria, mas a inteligência dela permitia que sobrevivesse no mundo em que foi criada. Ela não era uma pessoa má, partindo do princípio que nunca soube a diferença entre o bom e o mau e ainda assim... Ela tinha algo que a tripulação d'O Ceifador já perdeu havia muito ou nunca tiveram. Era uma chama que brilhava branca e pura nos confins do seu coração. A pureza, a inocência, a bondade. Ela é boa. Lembre-se disso, pois haverão momentos nessa história que poderão fazê-lo duvidar disso. 
Alba cresceria em uma vida totalmente miserável sem ter consciência de que não deveria ser assim. A vida não deveria ser tão dolorosa, tão medíocre, tão cruel. É uma pena que ela não soubesse disso o tempo todo, aposto que ela teria fugido antes.... Mas me adianto de novo. Ela estaria tão cercada de coisas assustadoras que depois de um tempo esqueceria que o próprio medo existia, menos por uma coisa. A coisa que Alba nunca deixaria de temer: Seu pai.






_______________________________________________________________


Significado do nome Alba: Alva, muito branca.

Um comentário:

Antonio Souza disse...

Oi Amanda! E então com quantos anos Alba está agora? Desde os quatro treina uma espada, mas a temos agora com quantos mais anos?
A história definitivamente é mágica e você megulha fundo nesse mundo. Aliás, não posso ser tão repetitivo, mas tens muito talento em resgatar esse faz de contas ao nosso realismo.

Na leitura tive algumas dúvidas em alguns trechos:
*Não a tradução para esse amor tanto quanto para a canção. ( seria Não há tradução...?)
*em uma caverna meio submersas ( submersa bastaria :-) )
*Alba sobreviveu a tripulação d'O Ceifador ( talvez, sobreviveu à tripulação, fosse o caso )
*acho que você merecem a minha tentativa ( Aqui pensei... vocês merecem ou você merece ... e a resposta veio abaixo na passagem :
"

Lembre-se disso, pois haverão momentos nessa história que poderão fazê-lo duvidar disso" (Fala apenas com um leitor - então presumo que seria você merece)

Ah! Por favor não mate a pobre Alba nesta história! Você faria o pai dela parecer um monge budista!