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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A arte de amar



Pedro morava no mesmo prédio que Ana. O quarto dela ficava em cima do dele, um ouvia quase tudo que o outro fazia. Ana dava muitas festas e colocava o som no último volume e Pedro não conseguia dormir com o barulho. Pedro trazia muitas mulheres para o seu quarto e Ana também não conseguia dormir com o barulho. Eles nunca viram o rosto um do outro, mas ambos estavam convencidos de que se odiavam.
Ana é uma DJ de sucesso e acredita em karma. Pedro é um pintor em crise e não acredita em nada. Ana escreveu um bilhete para Pedro reclamando do barulho, como ela não sabia o seu nome, escreveu "para o meu boêmio vizinho de baixo". Pedro reclamou de Ana com o porteiro, falando para ele como sua vizinha de cima parecia ser popular.
Pedro chegou em casa depois de sair para comprar materiais de pintura e encontrou o bilhete de Ana. Ele riu bastante do jeito que ela descrevia o quanto os encontros dele interferiam no sono dela. Parece ridículo, mas pela caligrafia dela e pelo jeito ousado dela escrever ele imaginou que ela fosse uma ruivinha sardenta e agitada. 
Quando Ana chegou do trabalho encontrou um bilhete em sua porta do seu vizinho de baixo. Ele falava sobre como as festas dela interferiam no sono dele, mas parecia mais interessado em explicar que todos os encontros dele foram causais. Ana achou isso engraçado e até um pouco fofo, mas decidiu deixar isso pra lá.
Uma semana depois, Ana esbarrou em Pedro no corredor. Foi o jeito de falar dela, não sei, mas Pedro sabia que era Ana. Ela não era ruiva e nem sardenta, na verdade Ana era uma morena de pele branquinha, mesmo assim, ele gostou dela. Ana também sabia que era Pedro, mas ele era exatamente do jeito que ela tinha imaginado e ela gostou disso. 
Depois de um mês e mais uns 15 encontros casuais no corredor, Pedro e Ana decidiram morar juntos. Era loucura, eles sabiam, mas ele era um pintor boêmio e ela uma DJ ousada... Loucura não era exatamente o que se esperava deles?
Pedro voltou a pintar, fez uma exposição e vendeu muitas obras. Ana largou o serviço de DJ pra virar musicista, foi pra universidade e aprendeu a tocar violino. Pedro amava a pintura e amava Ana que amava a música e amava Pedro. É claro que eles brigavam as vezes, mas logo Ana percebeu que brigar com Pedro era também brigar com a música e que não conseguia fazer música sem ele. Pedro também viu que brigar com Ana era o mesmo que brigar com a pintura e que não conseguia produzir nada sem ela. Isso, com certeza, quer dizer que o amor é a arte deles, sem metáforas, simplesmente é.
Pedro morava com Ana e eles fizeram do amor uma arte.

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