Então o homem viu aquela garotinha, quando ninguém mais via. Não que ela tivesse super-poderes e pudesse ficar invisivel, se tivesse, ficaria, mas, sinceramente, ela não precisava.
Então o homem fez algo mais que apenas ver a garotinha, ele a enxergou e isso é que faz a diferença. A multidão esbarrava nela ao passar e mesmo assim ela parecia isolada num outro tipo de dimensão. Talvez fosse o livro que ela devorava avidamente. Talvez fosse os fones de ouvido altos demais. Ou talvez fosse o desespero no seu olhar.
Então o homem fez algo mais que enxergar a garotinha, ele foi falar com ela. Ele se aproximou, sinalizou para que ela tirasse os fones e perguntou gentilmente:
- O que procura tão desesperadamente nesse livro?
A garotinha olhou para o homem como se ele fosse um bicho estranho, mas respondeu com uma coragem que não cabia no seu pequeno corpo:
- A mim. - Como o homem não parecia entender, ela continuou. - Eu estou procurando a mim mesma. Eu estou perdida e tenho certeza que não vou me encontrar nesse mundo aqui. - Ela indicou a calçada e as pessoas que passavam feito um borrão pelos dois - Estou procurando em outro. - Finalizou, indicando o livro.
O homem não soube o que responder, talvez achasse aquilo uma bobagem ou talvez ele mesmo não tivesse se encontrado ainda. A garotinha recolocou os fones no ouvido e seguiu. Depois de um minuto o homem seguiu também. Ele parou numa rua sem saída, procurando, procurando, procurando... A si mesmo.
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