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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rainha sem coração

Palavras mal pesadas foram ditas e o estrago fora feito. Lá foram os suditos para mais uma batalha sangrenta da qual não tinham culpa. Mas sua rainha falou e lá foram eles. Marchando para morte de olhos vendados, soldados sem futuro e com o coração partido. Lágrimas se espalham pelo campo de batalha e faz crescer o medo no coração dos peões, como se fosse um parasita se alimentando de suas forças. Peões, descartáveis. Bispos, Cavalos, Torres, mimos despensáveis. Avança, então, a rainha cruel. Rainha negra de morte, carrasca de inocentes. Ela atravessa o campo e crava uma faca no coração de seu inimigo.
Mas espere, que dor é essa no peito? A rainha se tornara vermelha, assim como o chão a seu redor. Oh, espere, ela forá traída. Uma espada cravada nas costas, tão fundo que perfurara seu coração... Então, a rainha tinha um coração, afinal? Bem, ela tivera, mas a espada o arrancara dela, enquanto caía seus olhos vidrados perguntavam: Por que?
O rei ordenou e um peão deu o cheque-mate em seu inimigo do outro lado do campo vermelho. Vermelho como a rainha vermelha, rainha morta. Traída pelo peão, o quão descartavel fora a rainha? Enfim, a rainha estava morta, mas o rei ainda vivia. Ele arranjaria outra rainha, outras batalhas, outras mortes.  Já bem sabia, todos eram descartáveis.
Logo, peões entoaram canções a rainha morta. Elas diziam, lamuriosas e negras: Oh, rainha sem coração...

Eu mesma, xadrez e morte.