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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Realismo nº 1

Eu acho o frio muito bonito. Uma beleza mordaz e cruel; ele dói na ponta dos dedos e do nariz e no fundo da nossa alma acuada, tremula. O frio isola e une. Pode nos encher de melancolia e solidão tanto quanto pode nos levar a abrir os braços e receber agradecidamente o calor humano. O frio mata na madrugada imperdoável e faz a gente soltar fantasminhas de fumaça pela boca de manhã. O frio mata e faz com que eu me sinta mais viva do que nunca. Às vezes, eu tomo banhos gelados só para sentir a respiração acelerar e o contato da água gélida com minha pele morna. Enquanto luto para respirar normalmente e sinto o choque da temperatura, eu vivo. Cada golfada de ar, cada calafrio é um sinal do quanto estou viva. É o meu grito mudo para mundo: Vejam o quão viva eu estou. Vejam como o meu sangue corre morno dentro de mim, como eu sugo o ar com tudo o que tenho. Vejam o quão viva estou e o quanto quero viver. O frio é minha prova final. Nada mais precisa ser dito sobre o assunto.

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