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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Decreto I

Escrevi poesias, histórias, textos. Destrinchei minha alma, esmiucei minha carne e espremi meu coração. Espremi até o músculo ficar rígido e seco, dei meu sangue e suor e lágrimas. Tirei do ventre as palavras, pari cada uma delas, porém ainda não cheguei ao cerne. As minhas poesias zombam de mim: elas não significam nada. Doces palavras de menina, ingênuas, acanhadas de se mostrarem no papel. O amor não é sobre isso. O meu amor não é sobre isso. Meu amor, minha arte - o cerne! - são palavras costuradas com tripas, penduradas no varal, pingando sentimento. Eu não quero pendurar palavras brancas e limpas no varal, sou adepta do exagero, do caos e do irreal. O sangue e os órgãos não são o bastante, preciso me decompor até o osso e depois o pó. E, quem sabe, ainda além. Muito além de prótons, nêutrons e elétrons, para lá da alma, além do próprio existir. Até lá, as palavras não têm significado. Até lá, falar de amor é profano.

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