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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Assim como Orfeu; Toco a morte nas cordas da vida.



O preto, eles me vestiram assim. Com trapos pretos e manchados de morte eles me vestiram. A droga é que eu tenho que usar o que eles imaginam, eles... Os humanos. Eu preferia uma coisa um pouco mais elegante, uma fita no cabelo e uns sapatos combinando. E no rosto... Mas eles nem ao menos pensam no meu rosto! Eles têm medo de imaginar e os que ousam, imaginam que sou feia, mas eu não sou feia. Bem, eu não era. Agora que eles imaginaram que sou, eu sou. Poderiam ao menos ter me dado uma voz. Não que nos falemos muito, eu e os humanos, mas eu realmente gosto de cantar. Acho que é porque eu silencio a todos, eles nem ao menos imaginem que eu tenha uma voz.

Diante dessas afirmações você pode pensar que sou feita apenas da visão das pessoas, mas está enganado. Você me verá do jeito que deseja, mas não pode mudar o que eu sou. Aliás, nada pode mudar o que realmente somos, você deve sempre lembrar disso... Pois lembrar de quem eu sou é a única coisa que me permite continuar fazendo o meu trabalho.
Falando diretamente, eu sou uma ladra. Mas eu estou bem com essa definição, já que sempre tive uma queda por ladrões e saltimbancos. A Vida não aprova esse meu gosto discutível, mas ela também não se dá bem comigo, afinal, eu vivo roubando seus brinquedos. 
O que eu quero dizer é que o seu medo de mim é totalmente desnecessário. Eu sou como uma velha amiga... Aliás, velha é a palavra-chave. Eu sou muito antiga, quase tão antiga quanto a Vida. Então, não queira saber mais que eu. Eu não sou o seu destino final, sou apenas a sua companheira de viagem. Podemos até bater um papo no caminho, você me conta sobre a sua vida e eu lhe conto sobre a minha... Ah, seja lá o que for. Desculpe se estou me alongando, esqueci que vocês não têm tanto tempo assim para histórias. E alguns de vocês realmente não têm mais tempo, acreditem, eu sei.
Só quero compartilhar esse último pensamento que me ocorreu entre um roubo e outro. Eu posso não ter sido a primeira coisa a existir, mas, com toda certeza, serei a última. A pergunta é, quando a última coisa viva morrer, poderei eu também ter o descanso eterno? Respondam-me se puderem: Poderá a própria Morte morrer? Eu realmente espero que sim, pois meu coração anda cansado demais. 
A propósito, eu sou a Morte. E, sim, eu tenho um coração.

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